domingo, 22 de novembro de 2009




Alguém me tirou das mãos a garrafa de tudo que eu desejo e me deu um copo pequeno e um dosador menor ainda.

Com ele dosaram tudo, tudo que eu mais quero em minha vida
Dosaram minha liberdade, botaram hora na minha ida e minha vinda

Dosaram minha alegria, já não posso mais rir do que não faz sentido
Dosaram minha autenticidade, já não escolho nem a cor do meu sorriso

Dosou o meu silêncio, meu coração não tem mais paz nem moradia
Dosou o meu barulho, já não canto mais uma simples melodia

Dosaram minhas lembranças, minhas recordações agora vagam no escuro
Dosaram minha esperança, já não sei o que será do futuro

Dosaram até minha tristeza, já não posso nem mais fracassar
Dosaram meus sentimentos, já não sei mais se devo amar

Mas um dia me canso, quebro o copo e num grito falo
Devolva minha garrafa, felicidade se bebe no gargalo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

I Want You


Lembro-me de quando eu tinha meus 17 anos e abominava tudo na vida que envolvesse regras e normas, como todo adolescente normal acho, e é justamente nessa fase em que você quer ser um “fora da lei” e curtir pelo mundo afora, que seu País o convida a uma vida de regras e ordens sem sentido.
“Aliste-se agora ás forças armadas!”

Eu como bom rebelde sem causa e fã incontestável de Bob Dylan, odiei a idéia, quem não odiaria?
Vida de soldado é puro sofrimento, ter que acordar antes do sol nascer, marchar feito um robô sem nem ao menos pensar se vai chegar a algum lugar com isso, ficar de pé durante horas imóvel, acatar ordens sem sentido de um idiota que se julga superior só porque tem alguns broches a mais pendurados no peito, sem falar em ter treinamento de guerra e quem sabe ser chamado para algum conflito mundial e voltar louco e paranóico como os que passam por estas experiências.


Muitos anos se passaram pra ser mais exato 5 anos, e agora vejo que eu não estava totalmente certo, eu nem imaginava os perigos de ser um civil nos tempos de hoje.
Acordo para trabalhar todos os dias antes do sol nascer, pra ser mais exato se eu olhar para o céu ele nem aparenta ter mais de 3 meses de gravidez para algo nascer dali, caminho um bom pedaço ainda sonolento e me arrumando pelo percurso com passos apressados, e não importa o quanto eu ande rápido eu sempre corro o risco de perder o ônibus e mofar a espera de outro, quando consigo pegar a condução me deparo com mais 200 civis disputando um espaço quadrado que de acordo com a placa em cima do motorista indica que só seria habitável para 48 de nós, passo cerca de 2h de pé, bem próximo a outros seres humanos, que diferente de mim nem sempre se dispõe de alguns minutos matinais para higiene pessoal tornando ainda mais desagradável meu trajeto, chegando ao trabalho me deparo com um sujeito que tenho que acatar as ordens só porque este dispõe de alguns zeros a mais que eu em seu contracheque, e as vezes me pergunto se rastejar na lama não seria uma ordem mais sensata do que algumas que recebo.
As vezes me pergunto se não seria mais fácil ser militar e muitas vezes acho que seria sim, e ao passar perto de um quartel acho tão filosófico ficar ali parado contemplando o universo, sozinho, com um fuzil que tem tantas funções quanto um peso de papel. De todas as semelhanças de minha vida como Civil e a de um Militar, percebo que só me faltou ter treinamento de guerra, o que seria muito útil, pois moro no Rio de Janeiro e trabalho próximo as favelas mais perigosas do Brasil,e como sabemos a guerra já começou faz tempo, mas quem vai à luta não são os militares, são civis como eu e você.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Sobre o Palhaço e a Rosa




Venho por meio deste explicar
Mesmo sem saber por que,
vou tentar dizer
O motivo de não mais publicar

Não publico porque não achei bom
Se fosse uma melodia,
sem medo diria
Que desafinei, saí do tom

Não publico porque o texto fala de mim
Igual a todos meus textos,
sei que é só um pretexto
Mas achei melhor por um fim

Não publico porque ninguém leria
Não sou um escritor famoso
Escrevo de curioso
A poesia do dia a dia

Agora chega, não vou mais mentir
Não publico porque me apaixonei
E como todo apaixonado não quis dividir

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sair comigo mesmo e voltar sozinho





Ontem me convidei para sair
não questionei meus motivos nem discordei
simplesmente aceitei
concordamos com a escolha do local
um buteco comum com aquelas máquinas de música
sentamos em uma mesa no canto
não queríamos provocar estranhamento, nem olhares comovidos
pedimos o mesmo para beber, uma cerveja gelada
seguimos a noite sem trocar nenhuma palavra
até que lá pela décima rodada
nossos olhares se encontraram lá no fundo do copo
desviamos os olhos de vergonha
vergonha de tudo aquilo que fizemos conosco
ou que deixamos de fazer por nós
nos olhamos fixamente por mais uma eternidade,
até que resolvi colocar uma música para quebrar o gelo
fui até a maquininha, coloquei uma moeda e escolhi Hey Jude dos Beatles
é incrível como a música une as pessoas
cantamos em uma só voz sem nos preocuparmos
com o que pensariam de nós
cantamos até que nos tornamos um
fui pra casa só e feliz

Os barcos






O Homem é como um barco
Precisa de um porto para ancorar suas emoções

Às vezes escolhemos lugares Como porto,
Mas lugares mudam, acabam, se modernizam
Transformam-se em ruínas
E deixam de ser seguros para as lembranças

Às vezes escolhemos pessoas como porto
Mas pessoas Mudam, são ausentes, se negam
Transformam-nos em ruínas
E deixam de ser seguras para os sentimentos

Então resolvi procurar por Deus
Desde então nunca me faltou lugar seguro para ancorar.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

O Último Romance?









Meu Velho amigo diário, não sei se ainda lembra de mim, afinal faz tanto tempo que não me confidencio em suas linhas tão nostálgicas, mas caso não lembre sou eu a Ana. Sei que deve estar pensando que estou muito velha para escrever em diários, na verdade até eu achava isso, mas pensando bem, percebi que essa sim é a idade exata para escrever, quando se é jovem a memória funciona com riqueza de detalhes, tudo acontece todo o tempo e muda com a mesma velocidade, agora na idade em que me encontro minha memória é tão fraca quanto meus ossos e tão cheia de detalhes quanto uma foto tirada sem flash no escuro, os fatos já não acontecem com a mesma velocidade, mas quando acontecem vem pra ficar.

E foi isso que me trouxe a essas linhas novamente, nada mais que a vontade de lembrar-me de cada detalhe de tudo que aconteceu de uns tempos pra cá, quando alguém especial entrou em minha vida.

Tudo começou quando fui convencida por meu filho Carlos, que veio me visitar no início do ano, a mudar para um "Condomínio especializado em pessoas da terceira idade", um mero eufemismo usado para disfarçar a palavra "asilo", veio mesmo a calhar, como eu temia essa palavra. Viúva muitos anos, vivia solitária em um apartamento apertado e cheio de recordações do qual eu raramente saia, não que isso fosse ruim, gosto do meu silêncio, mas tenho que concordar com meu filho que silêncio demais pode ser perigoso para o corpo e para mente às vezes.

Assim que me mudei para aquele condomínio de tons tão tranquilizadores quanto um Hospital, fui bombardeada por olhares curiosos de toda a vizinhança, de certa forma aquilo era quase tão deprimente quanto meu antigo lar, todas aquelas pessoas esquecidas ali com suas histórias estampadas na pele, buscando na minha chegada o mais novo assunto do mês, encarei meus vizinhos vestindo um olhar ameaçador, essa nem sempre foi uma atitude comum, mas é que eu estava passando por uma daquelas crises existências que aparecem de tempos em tempos.Li em uma revista que aos 40 anos passamos pela "crise da meia-idade", como eu tinha quase o dobro dessa idade deduzi que eu estava passando pela "crise da idade-inteira", que acredite, é mais cruel que todas as outras juntas e desde que ela havia chegado eu usava minha cara amarrada, sem hesitar, para espantar todos que tentavam se aproximar, essa tática costumava ser infalível, até uma pessoa de alegria contagiante e infinitamente perseverante surgir em minha vida.

Conheci Rubens ou Seu Rubens, como era carinhosamente chamado, na fila da farmácia do condomínio a quase um ano atrás, eu estava extremamente irritada devido a lentidão infernal que era comum em tudo naquele lugar. Tentei me acalmar, respirar fundo, mas todo aquele tempo ali era insuportável, até que explodi como uma bomba relógio comecei a gritar feito uma louca com o caixa e com todos que me olhavam atravessado, não me esqueço de todos aqueles rostos enrugados me julgando e me achando ainda mais louca que eu era, de certa forma tinham razão, como aquilo me deixava ainda mais furiosa. Então Rubens veio em minha direção e encheu até o topo a cesta que eu levava as compras com caixas de Remédios, fiquei estática olhando para ele sem entender aquela ação, foi quando se virou pra mim fazendo graça e disse: "pronto senhora aqui estão todos os calmantes que achei nesta farmácia, caso precise, tive o cuidado de colocar um Tarja Preta dos brabos também, são por minha conta", abriu um sorriso tão doce que acalmaria até uma leoa faminta. No mesmo instante percebi o quanto eu estava sendo ridícula e comecei a rir incontrolavelmente, fazia muito tempo que eu não ria daquela forma.
Fiz minhas compras e segui pra casa acompanhada por Rubens que não parava de me fazer sorrir, com seu modo único de ver a vida, costumava dizer que era um "Gaiato nato".

Com o tempo começamos a nos encontrar ao acaso por toda parte daquele condomínio apático, Rubens sempre vinha com o seu sorriso contagiante e bons assuntos, sejamos francos, não é muito difícil ter bons assuntos nessa idade, assunto que rende é falar dos filhos, dos netos, da novela. Rubens costumava dizer que: "literatura pra ter assunto com velho era bula de remédio". Quase todas as frases são no pretérito imperfeito do modo indicativo, a seqüência de palavras "No meu tempo... ’ era tão comum nas conversas quanto uma pausa antes de começar um novo assunto. falávamos de Música, Cinema e Literatura, concordávamos mutuamente que todos esses itens eram como um bom vinho, as safras antigas eram sempre as melhores.
Nossos encontros se tornaram tão prazerosos que dávamos uma ajudinha ao acaso às vezes, soltávamos no ar coisas do tipo: "amanhã acho que vou dar uma passadinha no bingo lá pelas 19h, ouviu? 19h...", e mais uma vez estávamos nós dois ali, lado a lado fascinados pela vivência um do outro. Isso se arrastou por meses até que paramos de vez de jogar toda a responsabilidade para o acaso e começamos a marcar nós mesmos nossos "encontros".
A os encontros da terceira idade, nada tem em comum com o romantismo da juventude, as idas ao cinema são substituídas pela espera no consultório médico, sair pra comprar sorvete é trocado pela demorada fila da farmácia, sair pra dançar vira uma partida de dominó. Isso pode até parecer monótono, mas o mais incrível disso tudo é que a sensação de fazer essas coisas aparentemente comuns com Rubens era tão empolgante quanto os encontros da juventude.

Tudo foi ganhando grandes proporções e Rubens não fazia questão de esconder que estava interessado em mim, mas sempre era repreendido por mim, que desconversava, irremediavelmente, todo assunto que levasse a o possível constrangimento de falar do que sentíamos um pelo outro.

Na verdade eu ainda não sabia exatamente o que sentia até hoje à tarde quando fomos ao consultório do Dr. Marcos. Rubens pediu pra ser atendido primeiro, achei estranho, ele evitava ao máximo as consultas, disse que iria só fazer umas perguntas e logo retornaria, saiu do consultório poucos minutos depois segurou a porta para que eu entrasse e ficou me esperando na recepção.

Mal entrei no consultório comecei a falar de forma ininterrupta o que me preocupava, já tinha todas as minhas dúvidas na ponta da língua, queria saber o motivo de eu estar tão estranha de uns tempos pra cá. Queria saber porque meu coração batia tão acelerado, achei que poderia ser um princípio de algum problema cardíaco, os calores que sentia até nos dias frios, seria a menopausa? Tremores, falta de atenção, eu estava mais avoada que o normal, será que eu estava ficando esclerosada? Quando terminei de falar o Dr. Marcos sorriu discretamente e disse: "os sintomas de sua patologia já foram diagnosticados faz séculos, ao contrário do que pensa os especialistas nessa área não são os Médicos e sim os poetas, e seu diagnóstico é mais simples do que imagina, você esta sofrendo de Amor". e continuou com um tom sarcástico " Se ainda tiver dúvidas, recomendo que leia alguns livros do Dr. Shakespeare"

Aquilo era a mais pura verdade, eu estava apaixonada por Rubens, tardiamente claro, nem eu nem ele estávamos na idade de nos apaixonarmos, nossos corações mal batiam por nós mesmos quanto mais um pelo outro. Aquilo não tinha cabimento nenhum, se minha vida fosse um filme, eu diria que nos conhecemos nos créditos finais quando todos estão saindo do cinema sem nem ao menos ler o que aparece escrito.
Quando eu já estava saído do consultório Dr. Marcos fez uma confissão sussurrando para que ninguém além de mim o ouvisse: "Sei que é totalmente antiético de minha parte, mas em nome do amor tudo é válido. Seu Rubens acabou de vir ao meu consultório, pedindo pra que eu receitasse um bom remédio para memória, pois ele não queria esquecer nenhum momento que passava com Você Ana"

Ao ouvir aquelas palavras sai completamente confusa do consultório, perdida em meus pensamentos, sai sem nem me despedir, Rubens me levou até minha casa, preocupado com minha saúde, quando terminei de dizer pela milésima vez que não tinha nada de errado comigo ele então falou que tinha que me dizer algo. Fiquei tão nervosa que não sabia o que fazer, então ele me olhou fixamente nos olhos tentando enxergar algo além de minhas pupilas desgastadas e disse com a determinação que só os apaixonados tem, que me amava, senti verdade em tudo o que dizia, mais eu não sabia como lidar com aquilo naquele momento, como eu estava muito confusa acabei sendo grossa, disse coisas que não deveria dizer, falei que éramos velhos demais para nos apaixonarmos e pedi para que fosse embora, por um instante vi aquele sorriso contagiante sair de cena e dar lugar a uma lágrima solitária que passeava por seu rosto até repousar em seu peito que abrigava naquele momento um coração partido.

Como me arrependo de ter dito aquilo, mas amanhã Rubens e eu estaremos juntos novamente e vou dizer pra ele que eu também o amo, e que nunca é tarde demais para o amor.
Esse diário foi encontrado ao lado do corpo já sem vida de Ana quando alguns amigos foram avisa-la na manhã de sábado que Rubens havia falecido enquanto dormmia durante a noite. Dizem que ambos tinham no semblante um olhar esperançoso só visto nas pessoas que já encomtraram seu grande amor.

Este pode ter sido um final triste para uma história de amor, mas eu gosto de acreditar que esse não tenha sido mesmo o fim.

" De almas sinceras a união sincera
Nada há que impeça: amor não é amor
Se quando encontra obstáculos se altera,
Ou se vacila ao mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante,
Que encara a tempestade com bravura;
É astro que norteia a vela errante,
Cujo valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora
Seu alfange não poupe a mocidade;
Amor não se transforma de hora em hora,
Antes se afirma para a eternidade.
Se isso é falso, e que é falso alguém provou,Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou."
William Shakespeare

Dedico esse texto e todas as minhas palavras à Thainá Rosa, minha namorada e fonte infinita de inspiração, a quem atribuo minha felicidade e "meu olhar esperançoso".
Paulo R.S Monfort

sábado, 11 de julho de 2009

O Palhaço e a Rosa parte5


Ainda tinha água nos ouvidos da travessia do rio e o vento frio da manhã cortava seu rosto sussurrando coisas em seu ouvido, como quem atiça uma confusão o vento soprava IRA, ainda por cima tinha o som da correnteza mais forte que nunca naquele dia, o que lhe dava mais raiva, os girassóis nunca haviam aplaudido uma de suas apresentações como aplaudiam as palavras daquela invasora.

Mesmo com todo aquele barulho ele podia distinguir aquela voz hipnotizante, sempre foi ótimo em separar sons, desde a infância tinha a fixação pela sonoridade das coisas a sua volta, sempre quando chegava a um lugar novo fechava os olhos por alguns minutos e deixava a melodia do universo invadir seu coração, com todos seus músicos distraídos e sempre muito ocupados para perceber a magia das notas que se propagavam de seus movimentos, palavras e gestos. Tudo virava um instrumento naqueles minutos mágicos, o ritmo dos passos apressados, as vozes da multidão formando um coro, o sino do carrinho de pipoca marcando a virada da melodia.

Seu lugar favorito para ouvir a orquestra dos distraídos ,como costumava chamar, era a praia, não existe lugar mais sonoro no mudo que uma bela praia, o som dos pés pisando na areia fofa marcando o tempo da melodia, as gaivotas que pra ele se assemelhavam a os violinos emitindo um agudo sedutor, e o principal de todos: O mar, a prova fiel que o mundo é uma orquestra, com o ritmo constante das ondas quebrando na praia, dizia sempre: "O Mar é a batuta de Deus regendo de forma impecável o universo formando a mais bela das sinfonias: A Infinita Sinfonia do Universo."

Era uma pena só ele perceber toda aquela beleza, para as pessoas a sua volta tudo aquilo era barulho, um caos sonoro, sem ritmo nenhum, mas ele podia filtrar os sons e assim conseguir perceber a infinidade de canções que se formavam.

E era graças a isso que ele podia distinguir as palavras ditas pela invasora naquela manhã, eram de uma rima e tonalidade semelhantes a declamação de uma poesia, ele só não conseguia saber de onde vinha o som e ainda não tinha tomado coragem para ir até o meio do campo de girassóis para ver quem estava tomando pra si o único lugar em que ele se sentia completo.

Até que o vento lhe soprou outra vez aos ouvidos: “e se fizeram alguma coisa com Rosa?!” aquilo era demais para ele, na mesma hora esqueceu-se do medo e pôs se a correr em direção ao centro do campo se esgueirando por entre o emaranhado de galhos e raízes, e numa passada em falso tropeçou em uma raiz e caiu de cabeça em uma pedra, tentou se levantar sentiu uma gota escorrer até seu peito, pensou que já estava seco por ter passado tanto tempo no sol e no vento, ao levar as mãos na cabeça pode ver, era sangue, nunca havia visto tanto sangue na vida, no mesmo instante viu tudo escurecer e desmaiou.

Sentiu algo o puxando, inconsciente, mas mesmo assim podia sentir uma sensação de impotência, não poder se mover, pensamentos perdidos em sua cabeça, desespero, medo. Só conseguia sentir o toque delicado ao mesmo tempo zeloso em sua pele e ouvir alguns sons, o som de pano rasgando e uma voz dizendo “você vai ficar bem, vou cuidar de você” aquele timbre de voz trazia consigo uma paz, estava deitado embaixo da roseira com a cabeça no colo macio de alguém, com o pouco de força que ainda lhe restava balbuciou as únicas palavras que vinham na sua cabeça naquele momento:

- Rosa...?

E então a voz doce respondeu

- esse é meu nome...

E continuou falando, mas ele não conseguia mais distinguir nem assimilar nenhum som naquele momento

Então no seu ultimo ato antes de apagar completamente, abriu seus os olhos e num flash viu o sorriso mais lindo e surreal que já havia visto na vida, aquela imagem ficou registrada na sua mente como fotografia. Foi tudo o que conseguiu ver: um lindo sorriso e covinhas ainda mais charmosas e desmaiou em seguida.

Aquele sorriso surreal no meio de todas aquelas rosas misteriosas...

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Palhaço e a Rosa parte4


O rapaz tentou dizer mais uma vez que era tudo um engano, mas já era tarde, o velho já estava longe e tinha uma multidão a sua volta esperando para cumprimentá-lo.

E foi assim que a vida o fez palhaço.

Todos o elogiavam muito e parabenizavam pela incrível atuação, ele confuso não sabia o que responder.

Ao ouvir aquelas palavras ele pensou que talvez todos ali tivessem razão, quem sabe não tivesse vocação para palhaço, enfim ele seria bom em algo, como não queria voltar pra casa com a vergonha de não ter sido aceito ele poderia dizer para os pais que tinha conseguido a vaga de trapezista e ficar como palhaço até que ele pudesse fazer o teste novamente para o que ele queria. Ele agradeceu a todos saiu correndo pra casa.

Chegando em casa os pais já esperando a notícia de que ele não havia conseguido foram surpreendidos quando o filho entrou pela porta radiante dizendo a mentira que havia ensaiado por todo o caminho. Não era bom com mentiras, talvez aquela fosse a primeira vez que enganava seus pais, mas se saiu muito bem, eles acreditaram! E não tinha preocupação de seus pais irem ao circo, eles simplesmente não gostavam de nada daquilo, nem faziam questão de ir nem que fosse só para agradar o filho.

A noite veio e ele não conseguia dormir com aquilo tudo na cabeça, ele o rapaz mais tímido do mundo iria se apresentar no circo em pleno Domingo, dia que o circo ficava mais cheio na semana.

A cidade onde morava era muito pequena, não tinham muitas atrações o circo era programação certa dos domingos, todos estavam acostumados a essa rotina, pela manhã a missa e ao anoitecer o circo.

Pensou naquilo tudo até que o sono e o cansaço de um dia intenso o tomaram nos braços.

Acordou tarde o suficiente para perder a hora da missa, e isso era tudo que não podia acontecer, justamente naquele dia que ele precisava de toda proteção e ajuda possível acordou tarde.

Mas tinha outra maneira para conseguir falar com Deus e receber energias positivas, no seu lugar favorito onde ele se sentia em total sintonia com o universo.

Todos os domingos depois da missa e o almoço com a família ele pegava sua bicicleta e ia para o seu refúgio brincar de equilibrista.

Era realmente um lugar mágico, que havia descoberto no mesmo dia em que decidiu que queria ser equilibrista aos 13 anos de idade, fazia um calor escaldante nesse dia, ele estava indo para o rio se refrescar como de costume, até que ouviu o anúncio, “O Circo Chegou na cidade!”, então na mesma hora desviou seu caminho do rio e foi ver a grande novidade.Ele nunca havia visto um circo antes. Foi entrando, naquele dia a entrada era franca.

Quando fitou seus olhos naquelas pessoas vestindo roupas coloridas, fazendo coisas incríveis que nem nos sonhos imaginava, logo ficou encantado, mas ficou intrigado principalmente com um personagem daquele conto de fadas surreal que ali passava; um homem que mais parecia um Super-Herói das historinhas em quadrinhos, que usava uma roupa colada no corpo como o Super-Homem e tinha o total controle de seu corpo e seus movimentos, saltava de um lado para o outro se equilibrando em coisas inimagináveis. Quis ser equilibrista na mesma hora.

O espetáculo acabou então voltou a sua ida rio, mas aquela idéia não saia da cabeça, decidiu que precisava arrumar um trapézio para se equilibrar assim como seu herói, chegando ao rio viu na outra margem uma árvore gigante que parecia brotar das águas, seus galhos enormes tampavam totalmente a visão do outro lado, mas pra ele parecia perfeita para ser seu trapézio. Nadou contra a correnteza até que chegou até a árvore, foi entrando cada vez mais pelo emaranhado de galhos até que passou para o outro lado, quando viu o que a árvore escondia ali não acreditou, era simplesmente mágico, um pedaço de terra descampado que se assemelhava a um anfiteatro, fechado por um morro que cercava todo o local isolando-o do resto do mundo.

Pra ele aquilo seria o picadeiro perfeito, aquela árvore imponente seria seu trapézio, o sol que durante a tarde se posicionava justamente em cima da árvore fazendo a luz passar pelos galhos e se transformar em figuras no chão seria o holofote, o campo seria a arquibancada, tudo perfeito. Mas faltava algo, ele não sabia o que, mas sentia que algo faltava ali no seu Circo.

Foi quando percebeu que nunca seria um Circo completo se não tivesse uma platéia, como não tinha amigos e não queria dividir seu achado com mais ninguém descartou a possibilidade de usar pessoas, olhou a volta e viu algumas pedras, alguns galhos secos, nada que realmente poderia servir de platéia, até que viu lá no fim do campo alguns girassóis que apontavam para o sol que ficava acima da árvore.

Olhando daquele ângulo realmente dava a impressão de que os girassóis o observavam felizes e atentos. Mas achou que eram poucos os Girassóis na platéia, na semana seguinte voltou com algumas sementes e jogou por todo o campo. Depois de algum tempo as sementes brotaram e foram crescendo até que se tornaram uma enorme platéia de girassóis, que cobria todo o campo e nos dias de Sol o observavam atentamente. E no meio dos girassóis algo estranho aconteceu, uma Roseira incrivelmente linda e majestosa nasceu ali, ele não havia plantado nenhuma roseira só Girassóis, mas assim que a viu se apaixonou e parou de questionar como ela havia chegado ali.

Aquela Roseira misteriosa no meio de todos aqueles Girassóis felizes.

Ficava ali durante horas se equilibrando e se apresentando para o público dourado e principalmente para a senhorita de vermelho ao centro, que sem criatividade nenhuma havida dado o nome de ROSA. Rosa era a única que quando anoitecia e a platéia vibrante de girassóis murchava, permanecia a observar atentamente o espetáculo.

As vezes dava a impressão que os Girassóis até aplaudiam, mas na verdade se tratava do barulho da correnteza do rio em contato com as pedras na margem. Mas preferia acreditar que eram palmas.

5 anos se passaram e ele ainda tinha o seu refúgio só pra si, e naquele dia ele precisava mais que tudo das boas vibrações daquele lugar, saiu mais cedo que o de costume já que não tinha ido a missa e nem estava com fome para esperar o almoço, pegou sua bicicleta e foi até o rio, atravessou a nado, chegando na outra margem aos pés da árvore ouviu um barulho parecido com uma voz, seu coração parou, haviam descoberto o seu lugar, conforme ia se aproximando a voz ficava mais alta, uma voz aguda, possivelmente de mulher, falando coisas para alguém, quando se aproximou mais, pode ouvir claramente era uma voz feminina e parecia estar recitando uma poesia.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

O Palhaço e a Rosa parte3

Naquele momento ficou completamente nervoso sem saber o que fazer, as bochechas queimando de vergonha,as mão suando e as pernas bambas feito bambu,quando ficava assim seu corpo agia independente de sua mente e obedecia o que lhe ordenavam instintivamente, foi se direcionando até o trapézio e sem raciocinar foi subindo, cada degrau que subia mais as pernas tremiam, quando chegou ao topo tremia mais que uma britadeira, mas estão algo aconteceu, começou a ouvir uma voz, voz essa que o acalmava, dizendo pra ele seguir em frente e fazer o seu sonho se realizar que aquela era a oportunidade que ele tanto tinha esperado, uma voz inspiradora, ele geralmente nunca ouvia essa voz, sempre ouvia a que dizia pra ele desistir correr pra casa que lá sim era lugar seguro, era muito frouxo tinha medo da rede de proteção não funcionar, mas dessa vez não, resolveu ouvir a voz que o apoiava.

Posicionou-se na corda completamente desengonçado, e todos embaixo o observando cheios de expectativas, então inconsequente deu seu primeiro passo em um trapézio, que por coincidência
também foi o seu ultimo como trapezista , ao tentar colocar o outro pé se desequilibrou e no susto tentou se agarrar a corda com um dos pés, então ficou pendurado de cabeça pra baixo balançando os braços em desespero, como era muito magro um gaiato gritou da platéia.

- Parece uma lagartixa pendurada!!!


Todos começaram a rir, ele pendurado lá desesperado o medo havia tomado seu raciocínio, começou a gritar por socorro, com uma voz aguda como de uma mulher com medo de barata, ai que todos começaram a gargalhar descontroladamente e cada grito que dava as risadas aumentavam, até que ele sem forças já de tanto gritar e tentar se segurar soltou a corda, caiu de costas na rede deu uma pirueta e meia e foi lançado para fora da rede direto para o chão do picadeiro por sorte caiu em uma poça de lama que havia se formado ali e graças a isso sua queda foi amortecida e não sofrera nenhum ferimento.

Após alguns segundos se levantou meio zonzo coberto de lama e viu que todos o olhavam, então disse com a voz ainda aguda do susto:

- Eu estou legal pessoal, juro!

Ao tentar andar escorregou e caiu outra vez de cara na lama. Então todos começaram a rir, gargalhar, alguns rolavam no chão, outros choravam de tanto rir, tinha sido a coisa mais engraçada que eles já haviam visto o sujeito mais desengonçado da face da terra.
Depois de alguns minutos, na verdade muitos minutos de risadas o velho de fraque amarelo, se virou para o rapaz que já estava de pé tentando tirar a lama do rosto vermelho de tanta vergonha


- quase me pegou rapaz, por um segundo achei mesmo que queria ser equilibrista...

E o garoto sem entender:

- mais eu quero mesmo ser equilibrista senhor

O velho riu, botou a mão no ombro do rapaz e disse:

- O espetáculo já terminou filho...

- Você é simplesmente genial, o palhaço mais engraçado que já vi em toda a minha vida, vai ficar muito famoso sabia!? Sua primeira apresentação para o público será amanhã mesmo. Parabéns você agora faz parte do nosso circo!


E o velho saiu rindo e repetindo sem parar que o rapaz era um gênio da comédia.

terça-feira, 23 de junho de 2009

O Palhaço e a Rosa parte2


Quando chegou ao circo, que também era uma escola de artes circenses, já foi acreditando que seria fácil, era só dizer que queria ser equilibrista e pronto. Chegou para um velhinho que estava parado na entrada do circo, vestindo um Fraque amarelo e disse:

- olá senhor, como faço pra me inscrever nesse circo, quero ser equilibrista.

O senhor o respondeu todo sorridente mesmo sem ter nenhum dos dentes na boca:

- olá rapaz, é simples, me acompanhe.

E foi andando com passos muito rápidos pra alguém daquela idade, seguindo uma reta passando pelas fileiras de cadeiras, até que chegaram ao centro do picadeiro.

O garoto confuso por não estar vendo fichas de inscrição nem nada ali perguntou:

- Onde me inscrevo? Acho que não me entendeu bem, é minha primeira vez aqui, vim pra me inscrever e só, onde estão os papéis?

O velhinho começou a rir

- Aqui não usamos papéis nem fichas de inscrição nem nada disso, esqueça as regras do mundo lá fora, agora você esta em outro mundo. Para se inscrever terá que se apresentar!

E então o velho explicou que naquele circo havia todo um processo de seleção, na verdade era quase um teste vocacional, o teste era realizado assim que o aluno chegava, na frente de todos os presentes no circo, dependendo do desempenho e do porte da pessoa que estava se apresentando os professores decidiam se tal aluno tinha realmente vocação para ser malabarista, mágico, domador, palhaço ou quaisquer outras das funções exercidas naquele lugar mágico.

Justamente naquele dia, quando ia fazer o seu teste a casa estava cheia, algumas horas antes de chegar havia acontecido ali uma conferência de artes circenses, reunindo os maiores circos de toda a região.

Ao ouvir o velho dizer tudo aquilo garoto ficou branco e sem ação, quando viu estavam todos o observando curiosos, e então o velhinho gritou:

- Pode começar sua apresentação, quer ser malabarista certo? Então ali esta o nosso trapézio suba e nos impressione.